Como agarro um grão de areia? Como é que o cheiro? Como é que o sinto? Como sei que o deixei cair? Como sei se o grão que tenho na mão, é o grão de areia que quero verdadeiramente segurar e ter?
O grão de areia vai e vem, mistura-se e confunde-se, é levado e trazido. Cada vez que olhamos para, por exemplo, uma janela, vemos com esquecimento na mente aquele grão de areia que foi levado por entre os outros e aquecido ao ponto de se tornar... vidro.
Não é no grão que há a verdadeira importância, a derradeira força, vejo eu agora. É na imensidão de grãos que fazem uma praia. A areia seca é indestrutível. Não se consegue pegar nela sem que, mais tarde ou mais cedo, ela nos escorregue das mãos por entre os dedos. Com água torna-se maleável. Água apenas.
Que não haja enganos, querida Sophie Mishra, pois os grãos não se enganam, não mentem, não alimentam patéticas ilusões. Mas, oh! Quantas vezes não são os grãos de areia enganados, mentidos e alimentados com patéticas ilusões por forças superiores (para eles divinas) como o vento?! É tão triste!
Mas que pode dar um grão de areia à comunidade, ao mundo além de vidro? Que mais pode um grão de areia dar senão praias lindas e vastas? Um grão é inútil. (Se calhar é por isso que tantos acham a areia irritante.)
Quem contempla um grão de areia? Contemplar, admirar todo o mistério e toda a vida que há nele? Parece que toda a gente o enxota da toalha, do ombro, dos pés, do corpo, da alma. Quem contempla o grão de areia?
Fernando Tomáz
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