segunda-feira, 9 de março de 2009

Tempos passados

ilustração, litografia de Honoré Daumier realizada em 1846

A Educação em 1826
Regras de uma Escola Primária

Na busca incessante pela excelência, um professor da escola primária de Guardão, elaborou, em Novembro de 1826, um regulamento a ser escrupulosamente seguido pelos seus discípulos. Eis alguns dos artigos que compunham essa preciosidade.

«Artigo 1º. As horas de abrir a escola são no Verão de manhã às 7 e de tarde às 3; e no Inverno de manhã às 8 e de tarde às 2; todo o estudante que exceda este tempo sem legítima escusa, tem de pena 2 palmatoadas.
2º. Os que vierem antes daquele tempo nunca aproximarão à escola sem que o professor dê sinal de que são chegadas as horas para nela deverem entrar; e se fora estiverem fazendo gritarias, algazarras ou outras acções indignas, que mostrem o pouco respeito que têm ao mestre, o qual devem supor que os está ouvindo e vigiando, e que também não receiam o castigo, o terão de 3 palmatoadas.
3º. Quando entrarem na escola, ou sairem dela, o farão 2 a 2, e nunca de montão nem encontrando-se uns aos outros; ao primeiro passo que puserem dentro dela dirão em voz que bem se ouça, seja com a cabeça descoberta e o chapéu na mão direita caído pela perna do mesmo lado – Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo – (...) o que faltar a isto tem a pena de 2 palmatoadas.
12º. Determino que sejam corteses para toda a gente, tirando-lhes os seus chapéus ainda mesmo que lhos não tirem; (...) o dos meus discípulos que assim não praticar, tem a pena por qualquer vez de 4 palmatoadas.
21º. Espirrando o mestre, todos se erguerão dizendo – Viva – e se assentarão ao responder ele – Obrigado –; e se for algum condiscípulo, os mais dirão o mesmo, porém assentados, e lhes responderá o que espirrou – Obrigado – e para o mestre – Muito obrigado –, pondo-se de pé imediatamente; o que assim não fizer tem a pena de 2 palmatoadas.
23º. Não lhes é permitido bocejar, espreguiçar-se, nem estarem-se arranhando indecentemente com todas as unhas, na cabeça ou noutras partes do corpo; por serem acções estas que podem deixar de fazer-se sem prejudicar a saúde, e que pelo tempo adiante se tornam viciosas, além de serem nojentas e pecaminosas no meio de uma sociedade bem educada; a quem igualmente escandaliza e ofende muito meter a mão na braguilha ou outras partes desonestas. Todo o meu discípulo deve evitar estes defeitos e, não o fazendo, tem por cada vez a pena de 2 palmatoadas.
24º. Quando lhes abrir a boca involuntariamente, por ser isto uma acção que não pode obstar-se, acudirão logo a cobri-la com a palma da mão que estiver desocupada, para assim encobrirem o que esta acção tem de nojenta e feia; o que assim não fizer tem a pena, por cada vez, de 2 palmatoadas.
25º. Escarrarão brandamente entre os pés, e com estes, sem fazer grande estrondo, esfregarão os escarros de modo que nada se veja deles, o que assim não praticar, tem a pena de 2 palmatoadas.
27º. O que faltar a alguma lição, ainda que seja com justa causa, não trazendo escrito ou pessoa que o desculpe, tem, além da responsabilidade de sempre o trazer, a pena de 4 palmatoadas.
28º. Todo aquele, que depois de um ou mais dias feriados não souber bem as suas lições, ou que na repetição delas não der conta de si exactamente, tem a pena de 4 palmatoadas.”

Os alunos cujos olhos encontrem este regulamento concordarão que, apesar de tudo, nós, os professores do terceiro milénio (soa bem não soa?), somos uns porreiros. Aos professores que tiverem a paciência de ler estas linhas, enfim, não se sintam mal se quase...quase, sentirem uma invejazinha do tempo em que reinavam as palmatoadas.

Professor Orlando Lourenço
segue as hiperligações

3 comentários:

Cioara Andrei disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

bem que o stor nos queria dar umas palmatoadas, mas é lixado ;)

Silvares disse...

Bem que os alunos as merecem de vez em quando!
:-)