E em dias escuros, com as nuvens escondendo a luz do sol, dou por mim sem saber o que vejo, o que oiço, sinto ou penso. Sou um poeta das sensações e das emoções sentidas, guardadas no inconsciente, libertas num momento, numa visão, numa frase. As palavras e a forma vêm-me à cabeça e, tão cedo quanto possível, pinto-as com letras pegada seguidas de espaços que antecedem mais letras pegadas, seguindo-se assim este percurso até a última gota escorrer da minha mente para a mão e daí pingar na ponta da caneta que os meus dedos seguram.
É de dia e estou preso numa jaula de quatro paredes, um tecto e um chão. Chão e tecto a condizerem de branco e as paredes todas elas de meio branco, meio amarelo-pálido. Não se vê o sol brilhar lá fora pelas janelas que aos pares ocupam praticamente toda uma parede do lado oposto à porta da jaula. Outras criaturas e seres estão como eu, sossegadamente sentados, presos em consciência, nas cadeiras com as mãos suadas e as mesas molhadas. Presos nesta jaula e não são só criaturas que a enchem, mas também mentes criativas, mentes sábias, diferentes imitações uns dos outros, faladores, calados, cegos e falsos sábios.
E em dias em que lá fora, na jaula maior que sem grades está cheia de seres ainda mais diversos, o tempo está cinzento e das nuvens lá em cima caem as lágrimas de todas as entidades celestiais, minha pessoa adormece. Sei que olho, mas não sei o que vejo nem o que fito – se é que fito; sei que oiço, mas não sei o quão alto nem o que escuto – que na verdade não escuto; sei que penso, mas desconheço o quê, porquê e só sei hoje que penso porque escrevo – se é que escrevo de verdade a pensar. Dizem-me que não reajo a nada; dizem que não respondo ao meu nome nem que estou com atenção ao que quer que possa estar a passar-se. Para estas palavras ditas, tudo o que posso responder dizendo, é: «pois». Mas respondendo pela escrita ao que dizem, falando, direi: «tudo parece, assim de repente, um sonho do qual não me consigo lembrar do que se trata mas sei que sonhei com o corpo acordado enquanto a mente dorme».
E tal como, quando o meu corpo dorme, também quando só a mente o faz, descanso eu; procuro refúgio no dessassossego da confusão que é estar acordado no meu corpo e na minha história. Na sobrevivência que cada semana e mês e ano se revelam ser, num só instante, num momento em que não sei o que sou, quem sou, se sou, onde estou, se estou, porque estou; não há passado, presente ou futuro, não há nada a não ser o nada que vejo nos meus olhos, oiço na minha cabeça, sinto nas minhas mãos. É como o vento.
O verdadeiro sonho não é aquele que nós dizemos em voz alta ter para quando formos “independentes”. O verdadeiro sonho é o que se tem quando se dorme e não temos consciência que o tivemos, pois esse é o sonho que não dói, se não acontecer e que nos alegra quando acontece, porque apesar de não parecer estar lá o sonho, na verdade ele o está. Tal como eu também estou, mesmo quando pareço não estar.
É de dia e estou preso numa jaula de quatro paredes, um tecto e um chão. Chão e tecto a condizerem de branco e as paredes todas elas de meio branco, meio amarelo-pálido. Não se vê o sol brilhar lá fora pelas janelas que aos pares ocupam praticamente toda uma parede do lado oposto à porta da jaula. Outras criaturas e seres estão como eu, sossegadamente sentados, presos em consciência, nas cadeiras com as mãos suadas e as mesas molhadas. Presos nesta jaula e não são só criaturas que a enchem, mas também mentes criativas, mentes sábias, diferentes imitações uns dos outros, faladores, calados, cegos e falsos sábios.
E em dias em que lá fora, na jaula maior que sem grades está cheia de seres ainda mais diversos, o tempo está cinzento e das nuvens lá em cima caem as lágrimas de todas as entidades celestiais, minha pessoa adormece. Sei que olho, mas não sei o que vejo nem o que fito – se é que fito; sei que oiço, mas não sei o quão alto nem o que escuto – que na verdade não escuto; sei que penso, mas desconheço o quê, porquê e só sei hoje que penso porque escrevo – se é que escrevo de verdade a pensar. Dizem-me que não reajo a nada; dizem que não respondo ao meu nome nem que estou com atenção ao que quer que possa estar a passar-se. Para estas palavras ditas, tudo o que posso responder dizendo, é: «pois». Mas respondendo pela escrita ao que dizem, falando, direi: «tudo parece, assim de repente, um sonho do qual não me consigo lembrar do que se trata mas sei que sonhei com o corpo acordado enquanto a mente dorme».
E tal como, quando o meu corpo dorme, também quando só a mente o faz, descanso eu; procuro refúgio no dessassossego da confusão que é estar acordado no meu corpo e na minha história. Na sobrevivência que cada semana e mês e ano se revelam ser, num só instante, num momento em que não sei o que sou, quem sou, se sou, onde estou, se estou, porque estou; não há passado, presente ou futuro, não há nada a não ser o nada que vejo nos meus olhos, oiço na minha cabeça, sinto nas minhas mãos. É como o vento.
O verdadeiro sonho não é aquele que nós dizemos em voz alta ter para quando formos “independentes”. O verdadeiro sonho é o que se tem quando se dorme e não temos consciência que o tivemos, pois esse é o sonho que não dói, se não acontecer e que nos alegra quando acontece, porque apesar de não parecer estar lá o sonho, na verdade ele o está. Tal como eu também estou, mesmo quando pareço não estar.
Fernando Tomáz
Sem comentários:
Enviar um comentário