quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Fernando Pessoa e a procura do ser



Já na antiguidade clássica, ou mesmo antes, o homem procurava respostas inequívocas e, ainda hoje, continua a perseguir um objectivo que parece inalcançável: quem somos e de que modo devemos encarar a vida?
Fernando Pessoa é a prova do histerismo interior de um homem que procurava verdades, que sentia sofrimento em ser racional. “Sou hoje o ponto de reunião de uma pequena humanidade só minha”, o próprio poeta admite a sua despersonalização, a utilização da heteronímia, quem sabe para solucionar a imperfeição de ser humano.
Álvaro de Campos reflecte a sua visão do mundo moderno, a necessidade de sentir, de ser “tudo e todos”, de se embrenhar num mundo onde predomina a máquina e a tecnologia. Por sua vez, Ricardo Reis propõe um estilo de vida epicurista e estóica, o dia deve ser vivido com calma e tranquilidade, recusando prazeres violentos, já que o nosso fim é inevitável. Sendo assim, o sofrimento e as emoções fortes são um desperdício de tempo pois podemos morrer a qualquer momento. Surge, ainda, Alberto Caeiro, o mestre de todos os heterónimos ou simplesmente a solução para a dúvida da existência: devemos SER, recusando o pensamento, pois a verdade é o que se vê, e a natureza é a prova disso. Um homem que promove a “desculturalização” poderá ser o mestre de todos os outros?
A recusa da procura de respostas foi para Fernando Pessoa o caminho para a felicidade. No entanto, apenas uma parte de si (Alberto Caeiro) conseguia viver deste modo, continuando os restantes segmentos (Ricardo Reis; Álvaro de Campos) imperfeitos.
Em suma, a heteronímia em Pessoa é o reflexo das incertezas humanas, das tentativas de solucionar questões que serão sempre inalcançáveis mas que o homem irá procurar, inevitavelmente, ao longo dos tempos, de uma forma incondicional.



Inês André, 12ºA

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