terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Estes dias sem fim


Hoje é o dia, é um dia especial. Está a chover – e finalmente – vou sair deste bengaleiro horroroso! Estive três meses a ser segurado por este objecto estúpido que não serve para mais nada do que pendurar casacos e malas, nem para me fazer companhia é útil. Estar suspenso por este bengaleiro é o mesmo que estar só; mergulhei numa solidão profunda.
Vou sair para a rua e sentir as gotas da chuva a caírem sobre mim. A Mariana – que foi quem me comprou – vai finalmente poder saltar nas poças de água. Ela está feliz, eu estou feliz.
Foi há quase um ano que combinei com a Camélia (que, para quem não sabe, é a minha melhor amiga é uma gotinha que me faz imensa companhia) que nos encontraríamos naquele local àquela hora.
A Mariana acabou de acordar é só o tempo de ela se arranjar e já estamos lá fora!
Adoro esta sensação: as gotas de chuva a tocarem na minha cabeça – quase que me tiram o cheiro a mofo que adquiri durante o tempo que estive naquele maldito bengaleiro.
Não há crianças na rua, os escorregas e os baloiços estão molhados; não há pessoas na enorme e barulhenta esplanada da D. Rosa; os carros passam e molham tudo e todos à sua volta… Estamos num pleno dia de Inverno e eu adoro sentir-me assim!
A Mariana salta de poça em poça com as suas galochas rosa choque, e eu, mais uma vez, acompanho-a nas suas aventuras. Ambos sabemos que depois disto ela vai ficar doente, mas a alegria apodera-se de nós e hoje não existe nada que nos impeça de nos divertirmos.
Após duas horas de saltos e de gargalhadas caminhamos juntos em direcção à nossa casa. A Camélia não apareceu, contudo não estou surpreendido, e sei que um dia destes ela vai fazer-me (nos) uma visita.
Acabámos de chegar a casa e a Mariana espirra. Estamos encharcados em água. A mãe dela dá-lhe um ralhete e diz que vem aí uma constipação.
Depois do jantar, vamos para o quarto. A Mariana deita-se e eu fico a cuidar dela. Começamos a ouvir a chuva a bater na janela – ambos adoramos este som. Em breve, adormeceremos embalados com esta melodia natural que tanto nos encanta. Boa noite, dorme bem, Mariana.

Cláudia Mota Silva, nº 12, 9º E

Este texto resulta de uma experiência feita pelo mestrando António Peixoto sobre a escrita criativa.