segunda-feira, 4 de maio de 2009

A queda de Berlim e o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa




No dia 8 deste mês faz 64 anos que terminou a Segunda Guerra Mundial na Europa. Um pretexto para relembrar a queda de Berlim; possivelmente o que de mais parecido existiu com o Apocalipse. Um Apocalipse ao som de Wagner, intercalado pelos gritos desesperados das mulheres violadas pelos soldados russos, todos com uma esposa, namorada ou mãe para vingar. Os Alemães tinham cometido crimes inenarráveis na União Soviética. Pagaram muito caro por isso.
Recuemos umas semanas. Primeiros dias de Abril de 1945. A capital do Reich aguarda o massacre, resignada. Todos sabem que a derrota é inevitável. Apenas os mais fanáticos dos nazis acreditam ainda. Esperam um milagre que não acontecerá. O Reich dos mil anos afunda-se em sangue e lágrimas, escassos - mas terríveis - doze anos após ter nascido. As linhas da frente estão a uns meros a 60 quilómetros. A Prússia Oriental já caiu em poder dos Russos e os Alemães sabem o que os espera. Tanto mais que o Ministério de Propaganda de Goebbels explorou ao máximo as atrocidades cometidas pelos invasores de Leste naquele território, nunca falando, obviamente, das cometidas pelo Exército Alemão - e principalmente pela SS – na União Soviética.
Em Abril de 1945 Berlim é há muito um imenso montão de escombros, devido aos constantes bombardeamentos americanos e ingleses. A morte faz parte do quotidiano e o berlinense habituou-se. Com humor negro, brinca com a situação; “seja prático, ofereça um caixão” é a piada que corre no Natal de 1944. Mas em Abril é Primavera, apesar de tudo, e os habitantes da capital alemã não sabem por quanto tempo estarão vivos. Há que aproveitar. O que resta do Jardim Zoológico está aberto e nos intervalos dos bombardeamentos aéreos, as esplanadas reabrem. Pouco há para comer mas não faltam bebidas. A Orquestra Filarmónica de Berlim interpreta o Götterdämmerung de Wagner, o grande compositor anti-semita de quem a música Hitler afirmou ter feito a sua religião. À saída, elementos da Juventude Hitleriana oferecem cápsulas de cianeto aos espectadores. E os berlinenses voltam para os restos das suas casas e caves, ainda mais deprimidos, amontoados no metro que, num exemplo de eficácia prussiana, há-de funcionar até 23 de Abril, com a cidade já sitiada e sob fogo intenso da artilharia russa.
Dia 16 de Abril. Arranca a ofensiva final soviética. É a grande corrida entre Zhukov e Koniev para ver quem chega primeiro à capital da “besta fascista” - muitos soldados soviéticos morrerão inutilmente, apenas para que o seu marechal seja o primeiro a entrar em Berlim. A 18 a frente alemã esboroa-se. É o fim. A cidade, onde se amontoam mais de 3 milhões de civis, é cercada. No dia 20 o ditador nazi faz anos e sobe ao que resta da Chancelaria para cumprimentar os últimos fiéis. Entre eles está Himmler, que o trairá uns dias depois. O responsável pelos campos de concentração onde morreram 6 milhões de pessoas julga poder negociar com os Americanos. Só tem de convencer os Judeus a esquecer a solução final. Quanto a Hitler, é uma sombra de si mesmo. O atentado de 20 de Julho de 1944 e o louco regime diário que cumpre há anos fizeram dele um farrapo humano. Recusa-se a abandonar a cidade. E de qualquer modo, fugir para onde? No Ocidente os aliados passaram o Reno e os soldados alemães rendem-se ao ritmo de 50 mil por dia. Fogem do Leste. Fogem dos Russos. Os SS, em particular, arrancam as insígnias, na esperança de esconderem as atrocidades que cometeram.
Mas há quem combata, ainda. Enquanto no seu bunker Hitler grita, esbraceja e acusa tudo e todos de traição, cá fora, rapazes da Juventude Hitleriana de doze anos, votados à tragédia desde o berço, atacam os tanques russos com armas irrisórias e com uma coragem louca. Combatem por um líder que há anos não aparece em público, por um líder que viajava pelo Reich no seu comboio especial sempre com as cortinas fechadas quando lá fora as cidades se enlutavam de dia para dia, por um líder que quando voltava a Berlim era conduzido ao seu refúgio pelas ruas menos destruídas.
Acto final da tragédia: Hitler casa-se com Eva Braun e a seguir suicidam-se ambos. Milhares de alemães seguem-lhe o exemplo. Um fenómeno que só agora começa a ser estudado. A doutrinação do povo alemã chegara a um nível tal que, para muitos, um mundo sem nazismo não era concebível. O paradigma do horror foi dado por Magda Goebbels que matou os seis filhos com veneno antes dela própria e do marido se suicidarem. Cá fora, no meio das ruínas polvilhadas de cadáveres, as feras do Jardim Zoológico, enlouquecidas, deambulam ao acaso. As últimas rajadas dos defensores são disparadas por um punhado de SS franceses, belgas e nórdicos. Talvez por saberem que para eles, traidores para com as suas pátrias, a derrota significa a morte. Por fim, tudo termina. Berlim rende-se na noite de 1 de Maio. A Alemanha a 8. Estava terminada a matança que assolou a Europa durante quase seis anos. Faltava o Japão e o terror nuclear. Soviéticos e Americanos, aliados de circunstância e vencedores absolutos, em breve virariam as costas um ao outro. A Guerra Fria estava prestes a começar.

Sobre a queda de Berlim:

Um filme - A Queda – os últimos dias de Hitler, de Oliver Hirschbiegel, 2005. (Disponível na escola).
Um livro – A Queda de Berlim, de Antony Beevor, Bertrand Editora, 2003, 551 páginas.


Orlando Lourenço

3 comentários:

guida lucena disse...

É bom recordar, para não esquecer o que não pode ser esquecido!
E que belo texto, Orlando!

Jornal da Anselmo disse...

Sem dúvida. Os textos do Orlando têm constituído uma colaboração preciosa para o JA'' online. Mais colegas houvesse com este espírito participativo e este blogue-jornal teria (ainda) mais interesse.

Anónimo disse...

seria bom nunca esquecer o genocídio praticado pela barbárie aliada que foi a carnificina de Dresden ou as sistemáticas violações e assassínio efectuados pelo exercito vermelho bolchevique.
Curioso a farsa que foi á posterior o julgamento de Nuremberga,sem que nenhuma das potencias aliadas autoras de inúmeros crimes de guerra tenha sido julgadas por tal.
Já agora consegue provar que a solução final fosse o extermínio
de judeus?
Não vale apresentar alegadas câmaras de gás construídas no pos guerra pelos sovieticos.
Entao e que diz dos encontros entre a elite governativa nacional socialista e o movimento sionista internacional com vista ao estabelecimento de uma pátria judaica, pátria essa que tinha como proposta inicial a ilha de madagscar.