2006-2007
O Projecto CIV começou na nossa escola no ano lectivo de 2006/2007, propondo algumas actividades à generalidade dos alunos destinatários (sobretudo turmas 10º A, B e C), no âmbito dos direitos humanos e da cidadania.
Dessas actividades, destacamos os relatórios da identificação de actos quotidianos não cívicos e propostas pessoais de superação, feitas por cada aluno; a assistência à peça sobre xenofobia “Anna e Hanna” (Teatro D. Maria I) e a visita de estudo a um dos orgãos da soberania, a Assembleia da República.
Em simultâneo, formou-se um clube constituído por alguns alunos do 10º ano, que extra-lectivamente se foi reunindo para fazer um trabalho em que pesquisou informação, produziu argumentos e reflectiu com qualidade sobre se “A pena de morte é legítima?”.
O Trabalho foi apresentado no fim do ano lectivo, na nossa escola, num colóquio sobre direitos humanos em que intervieram representantes da Amnistia Internacional (http://www.amnistia-internacional.pt/), à qual foi prometido um cd com o trabalho.
2007-2008
A situação dos direitos humanos no mundo foi retomada ainda no ano lectivo de 2007-2008, por ocasião do Dia da Comemoração dos Direitos Humanos, a 10 de Dezembro.
Porém, neste ano lectivo virámo-nos para outro pólo do projecto, a cidadania. Foram propostos vários temas: afrontamento não violento de conflitos, direitos das mulheres/direitos dos homens, voluntariado. A maioria dos alunos que se mostrou disponível para trabalhar no Projecto escolheu o voluntariado, entendido como modo solidário de conhecer outras realidades humanas, interagir com elas, dar e receber.
Assim, em 2007-2008 iniciou-se uma pesquisa de instituições da freguesia de Almada onde se pratica voluntariado e de qual o acolhimento que podiam dar ao Projecto, surgindo as seguintes possibilidades:
1. Voluntariado com crianças (Regaço Materno, no Laranjeiro).
2. Voluntariado com idosos (Casa da Misericórdia, em Almada).
3. Voluntariado de protecção à floresta (Protecção Civil).
4. Voluntariado de apoio à mulher-vítima (UMAR).
Por razões que têm fundamentalmente a ver com as motivações dos alunos envolvidos activamente no Projecto e do seu pouco tempo (no 11ª ano não há Área de Projecto), foram escolhidas as duas primeiras instituições ao longo do ano, situadas respectivamente no Laranjeiro e em Almada.
Na última semana de aulas fizemos duas sessões de partilha pública. Durante o ano, nas turmas do 11º ano A, B e C foi sendo divulgada e integrada a experiência, sendo assim envolvidos 68 alunos, embora o "núcleo duro" fosse mais reduzido.
Conceito de voluntariado
Do ponto de vista antropológico e ético, o voluntariado que as alunas quiseram conhecer assenta na atenção ao outro, ao seu possível sofrimento ou isolamento. Mas há outras formas de voluntariado, que visam, por exemplo, o ambiente e os animais abandonados ou maltratados.
Em todos os casos, para uma actuação se situar no âmbito do voluntariado é preciso ter certas características. Vejamos, juridicamente, quais são.
“O conjunto de acções de interesse social e comunitário, realizadas de forma desinteressada por pessoas, no âmbito de projectos, programas e outras formas de intervenção, ao serviço dos indivíduos, das famílias e da comunidade, desenvolvidos sem fins lucrativos por entidades públicas ou privadas.Não são abrangidas pela presente Lei as actuações que, embora desinteressadas, tenham um carácter isolado e esporádico ou sejam determinadas por razões familiares, de amizade e de boa vizinhança.” (art.º 2.º da Lei n.º 71/98)
Aproximação ao voluntariado na Misericórdia de Almada
Dizemos “aproximação ao voluntariado”, pois foi disso que se tratou (nem toda a actividade prestativa é voluntariado).
Houve vários contactos com a instituição (http://www.scma.pt/voluntariado)
e, depois, com as idosas, em idas informais, mas planeadas com a terapeuta ocupacional, em manhãs em que as alunas não tinham aulas.
O diálogo inter-geracional – muito afectivo – procurou possibilitar o enriquecimento mútuo por partilha de experiências diferentes e ocupar os tempos vazios das idosas. Os temas foram variados (a juventude de ontem e a de hoje; a escola e o trabalho; os momentos mais felizes das suas vidas).
As alunas participaram também em actividades lúdicas, ajudando quando necessário.
As pessoas da instituição envolvidas, as idosas e as alunas consideraram a experiência muito positiva. As alunas disseram que esta experiência lhes permitiu compreender melhor o que é ser jovem, hoje e há cinquenta anos, do ponto de vista de recursos materiais e de mentalidade. Também lhes permitiu compreender o que é ser idoso actualmente, e de como é importante aproveitar e valorizar o seu potencial de experiência acumulada.
Voluntariado no “Regaço Materno”
Das idas ao “Regaço Materno” não há fotografias: as crianças deste C.A.T. (Centro de Apoio Temporário) estão sob sigilo, porque em alguns casos os seus progenitores encontram-se em conflito judicial pelo poder parental, infligem-lhes maus tratos ou dão mostras de negligência.
Portanto, destas crianças de pouca idade pouco soubemos: apenas que já todas tinham sofrido muito.
Foi uma relação afectiva “sem rede”, com total desconhecimento do seu enquadramento. Relações de afectividade e de atenção pura. As alunas sentiram esta experiência tão intensamente, que optaram por, desde Abril, disponibilizarem parte da 5ª feira de manhã para estarem com as crianças. Foi uma experiência muito rica, do ponto de vista de desenvolvimento pessoal, para as alunas envolvidas. E cremos, também para as crianças, algumas das quais estão pouco habituadas a ter a atenção de alguém.
Partilha da experiência e abertura a outros tipos de voluntariado
…e chegámos à última semana de aulas… no dia quatro de Junho, tivemos de manhã uma mesa redonda para a qual foram convidados os alunos das turmas B e C. Nessa partilha participaram o Grupo de Alunos mais ligados ao Projecto, uma das terapeutas ocupacionais das instituições (Dra. Priscilla Abreu) e eu, responsável pelo Projecto. E porque é importante ter uma visão alargada dos vários âmbitos e formas como se exerce o voluntariado, foram convidadas várias organizações, mas só puderam estar a ADDHU e o Voluntariado de Protecção da Floresta.
Da parte da tarde, na aula do 11º A, houve a apresentação do Projecto, a projecção de um trabalho de uma aluna e intervenções da representante da Associação de Defesa dos Direitos Humanos (Dra. Ana Luísa Silva) e do representante do voluntariado ligado à Protecção Civil de Almada (Sr. Jorge Graça).
A Dra. Ana Luísa Silva (ADDHU) expôs um misto de férias e de voluntariado a que chamou “férias de crescimento pessoal e de ajuda”.
Actualmente trabalhando com orfanatos do Quénia e do Nepal, a ADDHU tem programas continuados de apoio a crianças, a que pode aderir quem quer conhecer e viajar por esses países (a deslocação e seguros de viagem é por conta dos aderentes) e também deseja ajudar os habitantes locais com o suporte de uma estrutura, a qual disponibiliza alojamento e apoio ao aderente (http://www.addhu.org/).
O Sr. Graça falou-nos do voluntariado associado ao Serviço Municipal de Protecção Civil de Almada, que tem como função a vigilância e a prevenção de fogos na floresta do Concelho, bem como outras acções de protecção civil.
No âmbito da protecção da floresta, este Serviço conta com o apoio do C.I.M.O. (Clube de Montanhismo e de Orientação), dos Escuteiros, das Associações de todo o terreno e da Associação de Comandos Almada-Seixal. Informou que em 2007 envolveu 125 pessoas, cerca de 600 horas de vigilância e de prevenção, sobretudo aos fins-de-semana e feriados, e cerca de 3000 km percorridos, reduzindo drasticamente os fogos florestais.
Terminou, assim, o nosso trabalho de Projecto deste ano, ficando a pena de que muitos dos alunos inscritos não pudessem envolver-se tão activamente como inicialmente pensaram (no 11º ano não há “Área de Projecto”). Que esta partilha não deixe esmorecer o interesse.
2 comentários:
Os alunos do 11º A, B e C desta escola estão de parabéns!
Desenvolveram um projecto que não se limitou aos seus interesses pessoais, mas foi mais longe ultrapassando as paredes da própria Escola.
Considero esta acção muito importante, pois tal como dizem foi uma partilha de saberes entre diferentes gerações, todas elas carentes de amor e afecto.
Estes alunos mostraram que conseguem ultrapassar certos estereotipos que a sociedade actual incute e foram ao encontro de quem possui, por vezes, apenas a solidão.
Obrigada a cada um e uma que participou neste projecto o qual pode ser um exemplo e um ponto de partida para outros projectos semelhantes e porque não continuar esta doação que permite sair de nós próprios e tornar-nos mais ricos, indo ao encontro de quem mais precisa.
Agora que terminou o ano lectivo, desejo a cada um/a dos alunos/as e professores umas boas férias e um bom descanso!
Caro (cara?) anónimo(a) o Ja'' agradece, em nome dos visados, as suas palavras de incentivo e reconhecimento. É sempre bom saber que há quem reconheça uma acção louvável quando é praticada.
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