No
âmbito da disciplina de Filosofia, e enquanto alunos do 11º A, fomos, no
passado dia 6 de Maio de 2014, até à Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e
gostaríamos de vos relatar a nossa experiência.
O
propósito da visita foi assistir ao colóquio Bioética nos Países de Língua Oficial Portuguesa, que reuniu
diversos especialistas oriundos de países lusófonos que trabalham ou tinham
trabalhado no campo da Bioética, um estudo transdisciplinar que investiga as controvérsias éticas que surgem com os
progressos da biologia e da medicina. Os objetivos
da nossa deslocação foram o de aprofundar conteúdos da disciplina que dizem
respeito ao conhecimento científico, à ciência e à sua legitimidade, abrindo portas
a uma reflexão ética e moral sobre as suas condutas atuais.
E
como lá chegámos? Um pormenor “caricato” da nossa visita foi o meio de
transporte utilizado, que foi, neste caso, um autocarro público. Não foi, de
modo algum, um impasse, já que chegámos a horas, prontos para ouvir os oradores
participantes.
Após
uma breve introdução de Pedro Nunes, o moderador da sessão, teve a palavra José
Paranaguá, médico de
nacionalidade brasileira, que destacou a existência de paradoxos entre a desigualdade, o desenvolvimento e a cooperação,
frisando o confronto que existe entre a
solidariedade internacional e os interesses nacionais, alertando-nos também
para a propaganda duvidosa de
medicamentos que é difundida, como fator de risco à saúde das populações.
Seguiu-lhe
Walter
Oswald, antigo professor catedrático português, e um dos pioneiros da
bióetica, cuja intervenção foi marcada
pelo ênfase dado ao contraste entre a existência de bioéticas diversas,
motivadas pelo relativismo cultural,
e uma bioética universal. Defendeu
que se deveriam respeitar os valores e crenças morais de cada cultura, opondo-se ao “colonialismo bioético”,
isto é, à pressão de países desenvolvidos sobre os países subdesenvolvidos na
adoção de uma só bioética, o que suscitou alguma discussão entre a audiência,
nomeadamente na nossa turma, devido a divergências a respeito do proveito desse
relativismo face a uma universalização, que pudesse resultar numa maior
promoção do respeito pelos direitos
humanos e outros códigos morais.
A
posterior intervenção de Jonas Chalufo, enfermeiro de
nacionalidade moçambicana, centrou-se no “consentimento
informado” quanto aos menores de 18 anos em Moçambique, na liberdade de
escolha destes jovens no que toca à participação em estudos, refletindo sobre
eventuais coerções e pressões, e num
“seguidismo às lideranças”. Ao desenvolver a sua posição, abordou também a
dificuldade de expressão e as condições económicas e sociais destes jovens no
contexto do país.
Por
fim, Volnei
Garrafa, professor de nacionalidade brasileira, abordou a definição de saúde, que considera um direito, e não um bem, e a própria orientação
da produção de bens, que deveria trazer felicidade para as pessoas comuns, e
não para minorias dominantes. Focou-se, ainda, na dignidade humana, à imagem do que Kant defende, afirmando que esta é
um valor intrínseco, e os humanos
são fins em si mesmos, não devendo a investigação e a ciência pô-la em causa. Referiu,
também, a existência de estigmas
como um obstáculo à tolerância, aludindo ao “Imperialismo Moral” como retrato
desta realidade.
O
pouco tempo destinado a debate que se seguiu não nos deu grande margem para
questões. Ainda assim, gostámos bastante desta visita, uma vez que pudemos estabelecer
um maior contacto com a dimensão destes temas e a sua problematização, e ouvir
o testemunho destes oradores, cujos vastos conhecimento e experiência alargaram
os nossos horizontes e fomentaram, em nós, um maior interesse por questões da
ética nas ciências da vida. Esperemos que, para o ano, vocês também tenham a
oportunidade de assistir a palestras como esta e desfrutar das visitas de
estudo da disciplina de Filosofia.
David Brito e Gonçalo Pinho
11º A, Maio 2014
Agrupamento
de Escolas Anselmo de Andrade
Na
sequência desta visita, foi dirigido um convite ao presidente do CNECV para proferir uma palestra na
nossa escola, especialmente dirigida aos alunos do 11º ano de Filosofia.
O
convite foi amavelmente aceite e no dia 23 de Maio recebemos na Casa Rural o Prof. Doutor Miguel Oliveira da Silva, médico, licenciado em filosofia, e professor na faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
de Filosofia da Ciência, Bioética e Ética Médica.
A sua intervenção foi centrada no tema proposto, O
progresso
da ciência, seus poderes e riscos. Investigação científica e
interesses económico-políticos.
A partir de muitos exemplos
ilustrativos, reflectiu-se a suposta
neutralidade da ciência e dos cientistas, os diversos factores que
influenciam a investigação científica e a aplicação dos seus resultados. Estes
incluem alguns interesses económicos e
decisões políticas alheios à meta da verdade e de bem estar social.
Por tudo isto, uma das mensagens que
retivemos foi a de que o progresso científico não pode
desligar-se de uma cuidada reflexão ética.
Que assim seja!
Enviado pela Professora Ana Morais
Sem comentários:
Enviar um comentário