O presente relatório, elaborado pela aluna Iolanda Neves do 12º B,
é um convite à visita da Casa de Fernando Pessoa para quem pretende aprofundar
o conhecimento da vida e obra de um dos maiores poetas portugueses.
Visita de
Estudo à Casa de Fernando Pessoa
1.
Objetivos
A Casa de
Fernando Pessoa foi inaugurada em novembro de 1993, tendo sido concebida como
um centro cultural destinado a homenagear Fernando Pessoa e a sua memória na
cidade onde viveu e no bairro onde passou os seus últimos 15 anos de vida, Campo
de Ourique. Este pequeno universo polivalente, devido às várias atividades que
nele decorrem, apresenta na sua constituição um auditório, um jardim, salas de
exposição, objetos de arte e uma biblioteca, puramente dedicada à poesia e onde
se pode encontrar uma parte do espólio do poeta (objetos e mobiliário que em
tempos pertenceram ao poeta e que atualmente são considerados património
municipal).
Ao longo de
toda a visita, e através das informações fornecidas pelo guia, tornou-se
bastante visível o impacto da criação poética de Fernando Pessoa na génese do
modernismo, tal como a relevância do papel do Poeta no contexto da identidade
cultural nacional. O melhor exemplo desse impacto é a revista Orpheu, que se encontra exposta com
grande relevância nesta Casa de Fernando Pessoa, através da qual se principiou
o movimento modernista em Portugal, tendo provocado tamanha agitação e
contestação. Dos três previstos, apenas foram lançados dois números desta
revista, tendo Fernando Pessoa, ao longo deles, tornando públicos os poemas Opiário, Ode Triunfal e Ode Marítima,
de Álvaro de Campos e O Marinheiro e Chuva Oblíqua do próprio poeta ortónimo.
Para além do
contributo para a literatura portuguesa, Fernando Pessoa, sempre se mostrou
ativo na sociedade no que diz respeito às vertentes crítica e política, tendo
sido destacado, no decorrer da visita, um episódio em que Fernando Pessoa
ridicularizou Salazar com a sua célebre frase «Tenho estado velho com este
Estado Novo».
2. Recolha de dados informativos e sua análise
Durante a
visita à Casa de Fernando Pessoa foi possível a observação de vários objetos
pertencentes a Fernando Pessoa que possibilitaram retirar conclusões acera dos
seus temas favoritos e o perfil do eu
poético.
A arquitetura
desta casa remete para a melancolia e tristeza que tomavam conta da vida de
Pessoa devido à predominante presença da cor branca. Ora estes sentimentos
desagradáveis, juntamente com o tédio existencial, levaram a que Pessoa se
isolasse do mundo exterior, incluindo as pessoas que lhe eram mais próximas,
logo pode concluir-se que a frieza também característica no quarto de Pessoa,
está relacionada com o perfil do eu
poético que se encontrava permanentemente domado pela dor de pensar e pela
solidão.
Na minha
opinião, a área mais pertinente da Casa de Fernando Pessoa é o seu quarto. Este
situa-se no 1º andar e foi reconstituído tal como era em vida do poeta,
apresentando como recheio um total de dezasseis móveis que pertenceram ao poeta
durante a sua vida com um grande histórico de mudanças habitacionais. A peça de
mobiliário que despertou mais interesse neste compartimento foi, sem dúvida, a
cómoda onde, reza a lenda, Fernando Pessoa terá escrito, na noite de 8 de março
de 1914, três dos seus maiores poemas: O
Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro, a Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa, e a Ode Triunfal, de Álvaro de Campos.
Uma outra
divisão que despertou a atenção dos alunos durante a visita foi, certamente, a
biblioteca. Esta ocupa parte do piso térreo e do 1º andar e pode encontrar-se
neste local o conjunto de cerca de 1200 livros que pertenceram a Fernando
Pessoa, através dos quais ficou claro o interesse/paixão por diferentes
temáticas: astrologia, matemática, medicina, filosofia, sociologia, psicologia,
genética, literatura...
Ainda na
biblioteca encontram-se mais dois objetos que revelam interesse relativamente à
vida do poeta, são eles o “Retrato de Fernando Pessoa”, pintado por José de
Almada Negreiros em 1954 e a máquina de escrever que pertenceu a um dos
escritórios onde Pessoa trabalhou como tradutor e na qual foram escritos maior
parte dos poemas do seu heterónimo Álvaro de Campos.
É também uma
característica de Fernando Pessoa, o facto de andar sempre com um pedaço de
papel e uma caneta no bolso, para, no caso de ocorrer algo na sua mente, poder
logo transpor para o papel. Como tal, foram encontradas várias notas deste
poeta, em cadernos, e até mesmo, em panfletos e folhas soltas.
Por fim, é
passível de se salientar o ‘uniforme’ regular de Fernando Pessoa, constituído
por um fato negro, um chapéu igualmente negro e óculos.
3. Sua relação com fundamentos de pesquisa
A biografia de
Fernando Pessoa presente no manual afirma que este escreve duas categorias de
obras: as ortónimas e as heterónimas (obra escrita por personalidades criadas
pelo próprio poeta e cada uma com consciência, ideias e sentimentos diferentes
entre si e do seu criador). Os heterónimos mais conhecidos são Alberto Caeiro,
Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
Ora, na
biblioteca estão armazenadas inúmeras obras ortónimas e heterónimas de Fernando
Pessoa, o que leva a que seja, assim, reconhecida grande quantidade e
diversidade de eus criados por
Pessoa.
No quarto
verificou-se a existências de elementos alusivos à temática do mar, que captaram
a atenção dos estudantes e mais uma vez permitiram relembrar a importância da
heteronímia pessoana, devido ao facto de esta temática estar relacionada com a Ode Marítima de Álvaro de Campos, um dos
heterónimos pessoanos.
Para além de
tudo isto, estava também em exposição um bloco de notas que continha
informações pessoais, escritas por Fernando Pessoa, relativas à vida de Álvaro
de Campos, levando outra vez à verificação da necessidade de transmitir as suas
ideias e opiniões através de outras individualidades.
4. Apresentação de conclusões
“Não conheço vida de escritor que tenha sido tão falhada; e também
nenhuma conheço que tenha sido tão transfigurada pela arte.”
Robert Bréchon
in Estranho Estrangeiro. Uma
biografia de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
foi um escritor e poeta português que exerceu um papel importante no Modernismo
português. A sua vida observada de uma forma externa caracterizava-se por ser
solitária, pacata, contrastava em grande parte com a vida poética do poeta,
devido à sua necessidade de criação de novas personalidades para se conseguir
expressar em pleno.
Os últimos anos
da vida de Pessoa foram vividos com uma grande tristeza e angústia, pois
apercebeu-se que não teria havido qualquer realização dos seus projetos
intelectuais (tal como Robert Bréchon afirma «Não conheço vida de escritor que
tenha sido tão falhada; (…)»). De certo modo os seus projetos poderiam ser
excessivos de mais, ma o certo é que este sentimento de falhanço se apoderou da
vida do poeta, levando-o a um enorme estado de desespero. Em vida apenas viu
ser publicadas três das suas obras, sendo apenas uma em português: Mensagem.
Hoje em dia, o
seu talento é finalmente reconhecido, embora uma grande parte do seu grandioso
legado literário ainda não esteja catalogada e parte das suas obras ainda não tenha
sido publicada, e é considerado um dos expoentes máximos do modernismo do
século XX.
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