quinta-feira, 23 de abril de 2009

Friedrich Staps; morrer pela liberdade aos dezassete anos

A Batalha de Essling, Maio de 1809, por Fernand-Anne Piestre Cormon



No momento em que, a propósito do 25 de Abril, se fala e se escreve sobre Liberdade, não será despropositado lembrar Friedrich Staps, o jovem alemão que tentou assassinar Napoleão Bonaparte, numa altura em que os exércitos franceses não despertavam já sentimentos de admiração, antes de repulsa, pelos territórios por onde passavam. Os países conquistados não viam reflectidos nas Águias Imperiais os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade proclamados pela Revolução Francesa. Os ventos haviam mudado e eram agora as nações vergadas pela França que começavam a gritar por liberdade. Nascia o Nacionalismo, essa faca de dois gumes, esse pau de dois bicos em nome do qual milhões de seres humanos têm sido atirados para a morte.
O drama de Staps decorre em 1809, após a sangrenta batalha de Essling – primeiro desaire napoleónico, um verdadeiro prenúncio dos anos seguintes. Friedrich Staps, movido pelo desejo de eliminar o homem que considera a fonte de todos os males que assolam a Europa, desloca-se a Schönbrunn, o Palácio Imperial Austríaco, onde decorre uma parada das tropas francesas. Aproxima-se de Napoleão mas é detido. Revistado – tinha consigo uma enorme faca de cozinha – afirma querer matar o Imperador. Informado, este manda chamá-lo. A conversa entre Staps e Napoleão foi presenciada por várias personalidades e traduzida pelo general Rapp, uma vez que o jovem mal falava Francês. Encontramo-la reproduzida em inúmeras obras, a partir do testemunho que o próprio Rapp nos deixou nas suas Memórias. Eis esse diálogo, reproduzido uma vez mais, entre o Imperador dos Franceses e o «fanático de Schönbrunn», no dizer daquele.
“Napoleão: Que quereis fazer com a vossa faca?
Staps: Matar-vos.
N: Sois louco, jovem; sois um iluminado.
S: Não sou louco. Não sei o que é um iluminado.
N: Então estais doente.
S: Não estou doente. Estou muito bem.
N: Porque me quereis matar?
S: Por que fazeis a infelicidade do meu país.
N: Fiz-vos algum mal?
S: Como a todos os Alemães!
N: Por quem haveis sido enviado? Quem vos impeliu a este crime?
S: Ninguém. Foi a intima convicção de que ao matar-vos presto o maior dos serviços ao meu país e à Europa, que me pôs as armas na mão.”
Napoleão convence-se de que está na presença de um louco e manda chamar o doutor Corvisart para tomar o pulso a Staps. Este não resiste e permanece calmo.
“S: Não é verdade que não estou nada doente?
C: O senhor está bem.
Staps para Napoleão: Eu bem vos havia dito!
N: Sois um exaltado e causais a perda da vossa família. Conceder-vos-ei a vida se pedirdes perdão do crime que haveis querido cometer e do qual vos deveis sentir envergonhado.
S: Não pretendo qualquer perdão. Sinto o mais profundo desgosto de o não ter conseguido!
N: Diabo! Parece que um crime nada é para vós!
S: Matar-vos não é um crime; é um dever!
N: De quem é o retrato que encontraram convosco?
S: É de uma jovem que eu amo…
N: Ela vai afligir-se com a vossa aventura!
S: Vai afligir-se por eu não ter sido bem sucedido. Ela odeia-vos tanto quanto eu!
N: Mas enfim, se eu vos perdoar, ficar-me-eis grato?
S: Não deixarei de vos matar por isso!”
Perante esta resposta, Napoleão, exasperado, mandou levar o jovem. O seu destino estava traçado. Friedrich Staps foi fuzilado no dia 17 de Outubro de 1809. Morreu a gritar “Viva a Liberdade! Viva a Alemanha! Morte ao seu tirano!” Quanto ao Imperador, não compreendeu ou não quis compreender o sinal dos tempos de que aquele rapaz era portador. Teve outros que também não seguiu. No leito de morte, poucos dias após a batalha de Essling, o marechal Lannes dissera-lhe: “Nunca serás mais forte do que eras, mas podes ser mais amado…” Como sabemos, Napoleão não seguiu este conselho e perdeu tudo.


Professor Orlando Lourenço

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